O português e a lusofonia
Pe. Álvaro Teixeira, cmf
Nos tempos que correm, as questões ligadas à língua portuguesa parecem de somenos importância, tendo em conta que até grandes nomes da Comunicação Social, da política e da governação não têm qualquer pejo em deitar uma calinada na língua, sem qualquer rubor da face.
Em Portugal, a língua anda como anda, tanto entre o povo como entre estudantes e gente formada. Ainda não compreendi bem as linhas com que o actual Ministério da Educação se cose com a salada russa das mudanças operadas nos últimos tempos. Digo isto pelo que vem na imprensa e por conversas havidas com professores da língua, assim como por reacções públicas destes. E não se me afigura muito que o futuro seja deveras prometedor. Cada vez mais “errar é humano”. Por isso mesmo, não há esforços visíveis numa real e necessária mudança.
Nas Colónias, aconteceu o mesmo que com o latim que recebemos, nos primeiros séculos, e que deu origem ao português; os veículos melhores difusores do latim foram os soldados, os mercadores e os funcionários públicos. E assim recebemos o “latim vulgar” para fundamento da nossa língua científica. No Brasil, na África e na Ásia, a nossa língua foi levada sobretudo pelos mesmos agentes e pelas famílias emigrantes que lá foram ganhar o seu pão. É claro que havia professores que deram o seu melhor; no entanto, os portadores da língua e a influência dos idiomas locais tiveram mais peso. Daí, os crioulos e os disparates mais vulgares.
Com o peso da comunicação social telenovelesca, o Brasil, pioneiro e forte apostador nessa área, pôde espalhar o “brasileiro” por tudo quanto era canto. Com a “Gabriela” e outras quejandas, o nosso Zé-povinho começou a abrasileirar a sua incultura linguística e até gente de gabarito não se incomoda muito de estrangeirar a sua expressão lusa. Um tal “novo dicionário” – que parece, felizmente, ter abortado – é sintomático.
Nos novos países de expressão portuguesa ( conheço Angola bem ao vivo e, ali, faço o que posso no ensino da nossa língua mãe ), o português entrou como disse acima e mais se adulterou com a fuga dos “retornados” de 1975. No seu lugar, ficou um vazio enorme. Além disso, Portugal – que não é dono da língua, mas deve exigir ser padrão da mesma – pouco ou nada tem feito para formar professores de português. Não vejo que o Instituto Português possa ser o salvador da pátria, neste particular. Nem sequer chega a descargo de consciência de quem de direito. Além disso, as telenovelas brasileiras, também aí, fizeram os seus estragos. E temos o “brasileiro” a invadir o que restava do “português”, tal como o joio invade um campo abandonado.
Será que os nossos governantes – os mesmos que pensam tanto em, fomentar as exportações – se lembrarão de que também é dever seu acompanhar, mesmo economicamente, a implementação duma língua bem falada e escrita, não obstante sabermos que os vocábulos nativos também podem enriquecer o nosso idioma? Infelizmente, não me parece que os “choques tecnológicos” estejam fermentados por uma pretensão cultural. As relações, nomeadamente com Angola, privilegiam mais o dinheiro e a economia. E ponto final!
Jornal O Setubalense Edição de 26-03-2008
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